sábado, 10 de março de 2012

SETOR IMOBILIÁRIO TEME MUDANÇA NA POUPANÇA

O setor imobiliário teme que eventuais alterações na remuneração da poupança comprometam os recursos para o crédito habitacional. Com o financiamento imobiliário crescendo na velocidade de dois dígitos, a previsão é de que o funding atual da poupança se esgote a partir de 2014. Ao reduzir a atratividade desse investimento, a captação de recursos tende a cair e essa estimativa pode ser antecipada. O setor se antecipa ao fato e já busca algumas alternativas.

Com o corte mais acentuado da Selic nesta semana e a perspectiva de uma nova redução de 0,75 ponto porcentual na próxima reunião do Copom, no mês vem, cresceram as pressões para que o governo modifique a remuneração fixa da caderneta para melhorar a atratividade dos fundos de investimento. Fontes do governo ouvidas pela Agência Estado destacam que a proposta de mudança já está pronta, faltando apenas a decisão do ministro Guido Mantega de quando colocá-la em prática. Nesta sexta-feira, o ministro disse que a alteração não é necessária. Segundo ele, "a rentabilidade da Selic ainda é maior".

Embora o ministro negue, no setor é dado como certo que alguma mudança vai ocorrer. Os especialistas têm como exemplo o que aconteceu em 2009, quando a Selic caiu para 8,75%. Naquele momento, para evitar migração dos recursos dos fundos DI para a poupança, o governo tributou com Imposto de Renda as aplicações superiores a R$ 50 mil. As projeções mais recentes dos analistas apontam para uma Selic de 8,5% este ano. O presidente da Associação Brasileira de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Octavio de Lazari, avalia que, com o juro nesse nível, a mudança terá que ser feita e vai influenciar o funding do setor. Mas ele pondera que o segmento vem discutindo há três anos alternativas de recursos.

Uma delas é a letra financeira imobiliária, que deve chegar ao mercado este ano e, segundo Lazari, vai permitir captação de prazo mais longo para o setor. O executivo destaca ainda os certificados de depósito imobiliário (CRI), que já chegaram a estoque de R$ 28 bilhões, e as letras de crédito imobiliário. Walter Malieni, diretor do Banco do Brasil em São Paulo, chama a atenção para os fundos imobiliários e securitização de carteira imobiliária. "O mercado é dinâmico. Com a queda da Selic, outras alternativas de funding se potencializam".

A expectativa inicial, quando o crédito imobiliário crescia na casa dos 50% ao ano, era de que o funding da poupança acabaria em 2013. Mas agora, com a redução do ritmo para 30%, conforme previsto pela Abecip para este ano, a expectativa é de que esses recursos durem ainda mais um ano, até 2014.

Para o analista do setor financeiro da Austin Ratings, Luis Santacreu, o governo vai ter que levar em conta o funding para o setor imobiliário antes de mexer na caderneta. "É preciso buscar uma solução equilibrada, para que ao resolver os problemas dos fundos de investimento, o governo não comprometa o financiamento imobiliário", afirma.

A expectativa do mercado é de que as eventuais mudanças na remuneração da poupança ocorram a partir de meados do ano, dependendo do ritmo de queda do juro básico. "Não estamos cogitando mudanças no curto prazo", diz Bruno Gama, diretor de Operações da CrediPronto, empresa de financiamento imobiliário resultante de uma parceria entre o Itaú e a imobiliária Lopes.

Queda dos juros - Por enquanto, a queda na taxa básica de juros foi bem vista pelo setor imobiliário. "A redução é positiva" disse Gama, da CrediPronto. Ele lembra que, à medida que a Selic cai, a poupança fica mais atrativa comparada com outras aplicações, incentivando os depósitos que vão alimentar o funding. "Por hora, vemos uma recuperação do saldo que irá ajudar o funding".

Malieni, diretor do Banco do Brasil, acrescenta que a queda dos juros também tem o efeito positivo de aumentar a renda disponível da população, na medida em que permite a tomada de empréstimos mais baratos. Segundo ele, isso se reflete no mercado imobiliário em financiamento de imóveis de maior valor ou em parcelas menores, com comprometimento menor do orçamento familiar. "Isso significa um financiamento com mais qualidade e maior adimplência", explicou Malieni.

Fonte: O Diário online

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