terça-feira, 20 de março de 2012

MERCADO IMOBILIÁRIO ALEMÃO DÁ SINAIS DE AQUECIMENTO

Um hotel e um complexo residencial sendo construídos na Alexanderplatz, de Berlim.

As baixas taxas de juros da Europa estão alimentando os crescentes preços dos imóveis residenciais na Alemanha, impondo aos legisladores do país um novo desafio em sua luta para restaurar a saúde financeira da região.

Sinais de um boom nos preços de moradias em partes da Alemanha estão se tornando uma dor de cabeça para o Banco Central Europeu. Pois este, nos últimos dois anos, vem se debatendo para formular uma política única acerca das taxas de juros e do apoio aos bancos, que se aplique a países tão díspares quanto a endividada Grécia e a poderosa Alemanha.

Enquanto grande parte da zona do euro está lidando com dívidas altas, recessão e o estouro de bolhas de crédito, a maior economia do bloco, a Alemanha, enfrenta um problema bem diferente: o seu mercado imobiliário dá sinais de estar inchando.

Os alemães há muito tendem mais a alugar do que a comprar, sendo que a Alemanha tem um percentual pequeno de aquisição de imóveis, se comparada aos Estados Unidos e ao Reino Unido.

Mas baixas taxas de juros e empréstimos baratos do BCE aos bancos reavivaram o dormente mercado imobiliário alemão, elevando a média do preço dos imóveis em 5% no ano passado, o dobro do índice de inflação. Em pequenos municípios na Alemanha, os preços não estão subindo muito, mas, em certas regiões de Berlim e algumas outras cidades, eles apresentaram crescimento de dois dígitos do ano passado para cá.

Desde que a crise da dívida da zona do euro eclodiu, a política monetária do BCE foi largamente voltada a proteger países, como Espanha e Itália, na periferia do bloco, que luta para se reerguer. A Alemanha se beneficiou de um recorde de baixa nas taxas de juros, que impulsionou o investimento empresarial, e de um euro mais fraco, resultado das políticas expansionistas do BCE, as quais ajudaram as exportações alemãs. A economia alemã cresceu 3% ou mais anualmente, nos últimos dois anos.

O BCE não vê os preços dos imóveis residenciais na Alemanha como seu problema específico. Sua função é manter a inflação dos preços de consumo em 2% nos 17 países membros do bloco. Ainda assim, considerando o tamanho da Alemanha, um aumento insustentável nos preços dos imóveis poderia criar um risco para a estabilidade econômica.

A Alemanha ainda não está na zona de bolha, dizem analistas. No entanto, "quando você olha o aumento dos preços na Alemanha nos últimos anos, [...] não é preciso muita ciência para imaginar que, se nós tivermos outro ano com crescimento de 20% nos preços, nós poderemos nos ver diante de uma possível bolha", diz Andrew Groom, diretor de avaliação e transações do grupo de serviços imobiliários Jones Lang LaSalle, da Alemanha.

O banco central da Alemanha, o Bundesbank, está acompanhando de perto os preços dos imóveis residenciais, e pediu ao BCE que comece a se preparar para reduzir gradualmente o empréstimo de 1 trilhão de euros (US$ 1,32 trilhões) a juros baixos que este fez a outros bancos da zona do euro, nas últimas semanas.

Em vista das diferenças na região, a política monetária "pode ser muito expansionista para alguns países, e a Alemanha é um país onde a situação cíclica é muito forte", disse na semana passada o presidente do Bundesbank, Jens Weidmann.

"Os custos mais baixos de refinanciamento contribuem, juntamente com os bons aumentos de renda e a garantia de emprego, para a demanda por certos bens, e o mercado imobiliário é um exemplo", disse Weidmann. "Isso é algo que temos que vigiar" caso tenha algum efeito sobre a estabilidade financeira do país.

Os economistas estão divididos sobre o que os bancos centrais podem fazer para estourar as bolhas de ativos antes que estas se tornem um problema. O FMI defendeu uma ação preventiva dos bancos centrais contra a subida rápida dos preços dos imóveis. Outros dizem que os bancos centrais não estão bem capacitados para detectar bolhas nos preços de mercado, e poderiam prejudicar o crescimento com um aumento de juros precipitado.

Weidmann sugeriu que, apesar das preocupações com os imóveis residenciais na Alemanha, o BCE está, de modo geral, com as mãos atadas. A maioria dos financiamentos imobiliários do país está vinculada a juros fixos de longo prazo, que são menos sensíveis às políticas do BCE do que os de curto prazo. Weidmann atribuiu aos governos e aos órgãos reguladores bancários o ônus de usar outras ferramentas à disposição deles, tais como impostos e regras sobre empréstimos, para combater a bolha.

"No fim das contas, as políticas nacionais terão que reagir a esses desdobramentos", disse ele.

Desde os anos da hiperinflação, na década de 1920, os alemães têm medo que seu dinheiro perca o valor. À medida que a crise de dívida da zona do euro segue seu curso e os economistas alertam que as medidas de liquidez do BCE podem provocar inflação, os cidadãos alemães comuns têm se refugiado nos imóveis.

"Há uma boa chance de que parte dessa liquidez [vinda dos empréstimos do BCE] vá para o mercado imobiliário [alemão], e que parte disso cause uma bolha. Isso com certeza é um perigo", disse Kai Carstensen, economista do Ifo Institute, um centro de estudos de Munique.

Fonte: The Wall Street Journal

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