quarta-feira, 2 de outubro de 2013

PENHORA DE BEM DE FAMÍLIA DO FIADOR EM CONTRATO DE LOCAÇÃO


É justo que contrato seja mais oneroso ao fiador, do que ao locatário? 

Nos contratos de locação de imóvel, seja para fim comercial ou residencial, o locador precisa de garantia quanto ao efetivo cumprimento do contrato. Apesar de haver diversas formas de garantia, como depósito prévio de alguns meses de aluguel ou seguro-fiança junto a instituições financeiras, de natureza de caução, a garantia mais requisitada pelos locadores é a presença de fiador. 

E não é difícil imaginar a razão do descontentamento dos locadores com as demais formas de garantia, já que, no caso de inadimplemento do contrato de locação, até que se faça possível o despejo do locatário, e a imissão na posse pelo locador, por via judicial, o valor depositado, já há muito não satisfaz seu crédito. 

Para prestação de garantia por fiador, em regra, são apresentados os seguintes documentos:
- certidão de nascimento ou casamento, se houver;
- RG e CPF do fiador e de seu cônjuge, se houver;
- comprovante de rendimento;
- escritura definitiva e registrada de imóvel de sua propriedade, situado na mesma comarca do locador, para maior praticidade, em caso de execução;
- certidão de ônus reais atualizada da matrícula do imóvel dado como fiança;
- certidões dos cartórios de protesto;
- certidões dos distribuidores (cível, criminal e fiscal) 

Restando verificada a existência de imóvel de propriedade do fiador, com a concordância expressa do cônjuge e, diante da verificação de ausência de demandas judiciais que ponham em risco a propriedade do imóvel, e confirmem sua idoneidade, encontra-se o fiador apto a participar do contrato de locação, na qualidade de garantidor, com a necessária anuência expressa do cônjuge. 

É essencial que se verifique que, no caso de o fiador ser casado pelo regime de comunhão total ou separação parcial de bens, necessariamente o cônjuge deverá anuir o contrato, com sua assinatura, para fins de evitar futura arguição de nulidade da garantia. 

Esta preparação, que antecede a elaboração do contrato, é de suma importância, para que o cumprimento do contrato de locação transcorra normalmente, minimizando as chances de prejuízos ao locador, motivo pelo qual é recomendável que se busque o auxílio de escritório de advocacia especializado nesta área, para análise de perfil de locador e fiador, e elaboração de contrato. 

Há casos em que, apesar de todo o cuidado tido na fase pré-contratual, o contrato é descumprido pelo locatário. É neste momento que se torna essencial a figura do fiador, garantidor do contrato. 

Isto porque, em casos de necessidade de ajuizamento de ação de despejo em face do locatário e de cobrança de aluguéis, é possível que se execute o valor devido somente em face do fiador, ainda que este somente possua um único bem de família. 

Mesmo com o advento da Emenda Constitucional n. 26/2000, que reitera o direito constitucional à moradia , o entendimento jurisprudencial ainda garante eficácia ao artigo 3o, da Lei n. 8009/90, incluído posteriormente pela Lei n. 8245/91, que retira a garantia de impenhorabilidade de bens decorrente da prestação de fiança em contrato de locação. Ou seja, o fiador, que presta garantia de forma gratuita, é mais prejudicado, em caso de inadimplemento contratual, do que o próprio locatário, causador do débito. 

E melhor sorte não possui o fiador, em caso de execução dos valores judicialmente, já que a execução pode ser movida somente em face do fiador, sem litisconsórcio necessário com o locatário. 

Apesar do forte entendimento jurisprudencial no sentido de determinar a possibilidade de penhora do único bem de família do fiador, a discussão ainda se encontra aberta acerca da violação do direito constitucional à moradia deste. 

Ainda que se entenda que o fiador prestou garantia, consciente de que seria seu único bem de família, não se pode onerá-lo em demasia, deixando de lhe garantir o direito à moradia, prevista constitucionalmente. 

Compartilha deste mesmo entendimento o Exmo. Ministro aposentado do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, Dr. Aldir Passarinho Junior que, em julgamento memorável de que foi relator, nos autos do Recurso Especial n. 1.105.725 , acompanhado por unanimidade pela Colenda Quarta Turma, em 22/06/2010, proferiu brilhante decisão, se remetendo a julgados que confirmam a indivisibilidade do bem, e sua integral impenhorabilidade, sem mesmo a possibilidade de resguardar a terceiro sua parcela no fruto da venda em hasta pública do imóvel, sob pena de desaparecimento material do lar que abriga a família do devedor. 

Esta brilhante decisão, proferida pelo Exmo. Ministro, Dr. Aldir Passarinho Junior, garante o avivamento da discussão sobre a possibilidade de penhora de bens do fiador, relacionada ao direito constitucional de moradia, demonstrando o interesse popular pela regulação da matéria, sem a excessiva oneração do fiador. 

Por Amable Alves Fonseca, advogada associada ao escritório Areal Pires Advogados Associados 
Fonte: Notícias JusBrasil

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